Sala M. Félix Ribeiro | Seg. [31 de agosto] 15:30
IN MEMORIAM ENNIO MORRICONE
SOSTIENE PEREIRA
Afirma Pereira
de Roberto Faenza
com Marcello Mastroianni, Joaquim de Almeida, Daniel Auteuil, Stefano Dionisi
Itália, França, Portugal, 1995 – 102 min / legendado em português | M/12
Roberto Faenza adapta ao cinema o livro de Antonio Tabucchi sobre o verão lisboeta de 1938, onde o escritor se questiona sobre o estado da sociedade portuguesa de então. Pereira (Mastroianni) é o responsável pela página cultural de um grande vespertino lisboeta. A guerra civil prossegue em Espanha, Salazar está no poder, mas o jornalista concentra-se exclusivamente no seu trabalho, escrevendo biografias de escritores famosos, traduzindo autores franceses, etc. As atividades “subversivas” de um jovem idealista e da sua namorada forçarão Pereira a abandonar o conformismo e a assumir uma posição. Ennio Morricone compôs a música, na qual se conta uma canção interpretada por Dulce Pontes.
Esplanada | Ter. [1 de setembro] 21:30
A CINEMATECA COM O INDIELISBOA: 50 ANOS FORUM BERLINALE – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural | Com o apoio do Goethe Institut
W.R. – MISTERIJE ORGANIZMA
Os Mistérios do Organismo
de Dusan Makavejev
com Milena Dravic, Jago Da Kaloper, Ivica Vidovic, Zoran Radmilovic, Miodrag Andric
Jugoslávia, 1971 – 84 min / legendado em português | M/16
Típico da época em que foi feito, a passagem dos anos 60 para os 70, OS MISTÉRIOS DO ORGANISMO talvez seja o filme mais célebre do sérvio Dusan Makavejev, o realizador mais cosmopolita da ex-Jugoslávia (SWEET MOVIE; THE COCA-COLA KID). O filme tem a forma de um documentário-ensaio, de uma reflexão sobre as teses e a prática do psicanalista Wilhelm Reich, assistente de Sigmund Freud, cujas obras foram queimadas em 1956, um ano antes da sua morte, por ordem da Justiça americana. Como especifica o genérico, “estudando o reflexo orgásmico, Reich descobriu a energia vital, descobrindo as raízes profundas do medo à liberdade, do medo à verdade e do medo ao amor dos nossos contemporâneos”. Realizado quando a revolução sexual já era vitoriosa, OS MISTÉRIOS DO ORGANISMO é um filme “datado”, no sentido mais positivo do termo.
Sala M. Félix Ribeiro | Qua. [2 de setembro] 19:00
A CINEMATECA COM O INDIELISBOA: OUSMANE SEMBÈNE – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural
NIAYE
com Sow, Mame Dia, Modo Sene, Astou Ndiaye
Senegal, 1964 – 35 min / legendado eletronicamente em português
MANDABI
“O Vale Postal”
de Ousmane Sembène
com Makouredja Gueye, Ynousse N’Diaye, Isseu Niang
Senegal, França, 1968 – 90 min / legendado eletronicamente em português
duração total da sessão: 125 minutos | M/12

Segunda longa-metragem de Ousmane Sembène, MANDABI foi um dos primeiros filmes africanos a criticar a burocracia absurda a que podem ser submetidos os cidadãos daqueles novos países. O protagonista do filme recebe um vale postal de um sobrinho que emigrou para França e mostra-se muito generoso com os vizinhos. Mas o homem não possui bilhete de identidade e terá de viver um verdadeiro périplo pelos meandros da burocracia senegalesa. A abrir a sessão, uma rara curta-metragem baseada numa novela do próprio Sembène, narrada em voz off por um griot (narrador tradicional africano), de modo a estabelecer um laço entre o cinema e as tradições narrativas africanas. Em NIAYE, situado numa aldeia tradicional, mais uma vez, Ousmane Sembène critica certas “tradições” africanas, sem deixar de ter uma atitude de compreensão e otimismo.
Sala M. Félix Ribeiro | Qui. [3 de setembro] 15:30
A CINEMATECA COM O INDIELISBOA: OUSMANE SEMBÈNE – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural
CEDDO
de Ousmane Sembène
com Tabata Ndiaye, Madir Fatim Fall, Ismaila Diagne, Matoura Dia
Senegal, França, 1976/77 – 120 min / legendado eletronicamente em português | M/12
Um filme que causou polémica à época, sobretudo nos meios muçulmanos, o que serviu de pretexto para a sua proibição no Senegal (além de um suposto erro de ortografia na palavra ceddo, que se escreveria com um só d…). O filme irritou profundamente os críticos e cineastas árabes, pois Sembène equaciona a chegada do islão à África a uma forma de colonialismo, comparável ao europeu (no filme, uma das crianças negras convertida, à revelia, ao islão recebe o nome de Ousmane…). Quando o rei dos Ceddo parte para a guerra, um sacerdote muçulmano converte à força toda a sua tribo, exceto a filha do rei e o homem que a raptou, à guisa de protesto. Apesar da vitória do islão, a filha do rei terá um combate singular com o sacerdote muçulmano, numa das cenas mais fortes e mais despojadas do cinema de Ousmane Sembène. Em vez de realizar um “épico”, um filme repleto de batalhas e figurantes, o realizador senegalês preferiu uma mise en scène reduzida, que tem algo de brechtiano, pois apresenta um caso exemplar.
Sala M. Félix Ribeiro | Sex. [4 de setembro] 19:00
A CINEMATECA COM O INDIELISBOA: DIRECTOR’S CUT – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural
FILMFARSI
de Ehsan Khoshbakht
Irão, Reino Unido, 2019 – 84 min / legendado eletronicamente em português | M/12
com a presença de Ehsan Khoshbakht
Antes da esplendorosa geração composta por grandes mestres como Abbas Kiarostami, Jafar Panahi ou Mohsen Makhmalbaf, o cinema iraniano era um verdadeiro caudal de géneros fílmicos, participando no que se convencionou chamar pejorativamente “filmfarsi”. Os filmes anteriores à revolução de 1979 são objeto de escavação arqueológica por parte do codiretor do Il Cinema Ritrovato Festival, Ehsan Khoshbakht. Com base numa plêiade de filmes em formato VHS, oriunda da sua coleção privada, viajamos por imagens que procuraram cristalizar, a dado ponto na história, o projeto de um cinema puramente persa. Mas, como nota Khoshbakht, de puro este cinema pré-islâmico tinha pouco: remakes falados em farsi de grandes clássicos do “Ocidente”, como VERTIGO ou SABRINA, são alguns dos tesouros que aqui se dão a conhecer. Escreveu o realizador para o The Guardian: “Para muitos iranianos hoje em dia, filmfarsi é uma lembrança de um passado perdido. Já eu (…) vejo os filmes como documentos sobre como a sociedade iraniana mudou.”
Esplanada | Sáb. [29] 21:30
A CINEMATECA COM O INDIELISBOA: OUSMANE SEMBÈNE – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural
MOOLAADÉ
de Ousmane Sembène
com Fatoumata Coullibaly, Maimouna Hélène Diarra, Salimata Traoré
Senegal, França, 2004 – 124 min / legendado eletronicamente em português | M/12
No seu derradeiro filme, Ousmane Sembène aborda o polémico tema da excisão feminina. A história passa-se numa aldeia, no dia em que várias crianças vão sofrer a horrível mutilação. Duas delas suicidam-se e as quatro sobreviventes pedem proteção, através da magia, a uma mulher. No passado, esta recusara que a sua própria filha sofresse a excisão e, agora, a sua filha é recusada como noiva do filho do chefe da aldeia, pois foi descoberto que não tinha sido “purificada” pela excisão. A mulher é a única a poder suspender a proteção mágica (a “mooladé” do título) e sofre violentas pressões no meio de um choque de gerações. No seu testamento cinematográfico, o patriarca do cinema africano demonstra que nem todas as tradições são positivas.