Sala M. Félix Ribeiro | Seg. [24] 21:30
SESSÃO ESPECIAL DE REABERTURA
LE SEL DES LARMES
O Sal das Lágrimas
de Philippe Garrel
com Logann Antuofermo, Oulaya Amamra, André Wilms, Louise Chevilotte
França, 2020 – 100 min / legendado em português | M/12

O novo Garrel regressa a uma história de juventude, de novo filmada a preto e branco, com a crónica de um rapaz de coração docemente indeciso e exterminador que tem devoção pelo pai carpinteiro, com quem viveu sozinho fora de Paris, e a ambição da marcenaria que vai estudar numa escola de prestígio na capital francesa. De aparência amável e movimentos amorosos voláteis que atingem uma implacabilidade a que permanece alheio no seu autocentramento inquietado pela dúvida da existência do amor, Luc (o estreante Logann Antuofermo) faz girar os seus sentimentos com os de três raparigas: Djemila, Geneviève (Louise Chevillotte, única do elenco que já filmou com Garrel, no anterior O AMANTE DE UM DIA) e Betsy. Nesse percurso, Luc vai consumando o afastamento do pai que não está pronto para perder (o veterano André Wilms, várias vezes filmado por Kaurismäki). Um filme delicado de crueza intemporal.
Sala M. Félix Ribeiro | Ter. [25] 21:30
A CINEMATECA COM O INDIELISBOA: OUSMANE SEMBÈNE – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural
BOROM SARRET
de Ousmane Sembène
com Abdolaye Ly e o cavalo Albourah
Senegal, 1965 – 20 min / legendado eletronicamente em português
LA NOIRE DE…
de Ousmane Sembène
com Thérèse Mbissine Diop, Anne-Marie Jelinek, Robert Fontaine
Senegal, 1966 – 65 min / legendado eletronicamente em português
TAUW
de Ousmane Sembène
Senegal, 1970 – 24 min / legendado eletronicamente em português
Duração total da sessão: 109 minutos | M/12

A abertura da retrospetiva reúne três filmes de Ousmane Sembène, sendo os dois primeiros considerados os primeiros filmes realmente africanos, isto é: feitos em África, por um africano. Realizado sete anos depois da publicação do primeiro romance de Sembène, BOROM SARRET é o seu filme de estreia, ao passo que LA NOIRE DE… (realizado no mesmo ano em que foi organizado um vasto Festival das Artes Negras em Dakar) é a sua primeira longa-metragem e a primeira longa africana. Os dois filmes são próximos do ponto de vista temático e do ponto de vista formal: são realizados a preto e branco, num estilo conciso e tratam de problemas da África contemporânea num tom realista, mas de modo a ultrapassar este quadro restrito. Em BOROM SARRET, um habitante de Dakar que transpõe por engano a fronteira entre os bairros pobres e a parte rica da cidade com a sua carroça (sarret, corruptela de charette), que ali não pode circular, vê-se às voltas com a burocracia e os seus funcionários. LA NOIRE DE… é considerado por alguns críticos como uma metáfora de um jovem Estado africano: trata-se da história de uma jovem empregada que acompanha uma família francesa para a Côte d’Azur, onde perde todos os seus pontos de referência e naufraga. A fechar a sessão, a rara curta-metragem TAUW, que foi produzida por uma instituição pública educativa senegalesa. Trata-se de uma ficção, em que um rapaz de vinte anos erra em busca de trabalho, pois engravidou a namorada, que é rejeitada pela família, ao passo que o seu irmão mais novo se vê às voltas com as contradições da sua educação religiosa. BOROM SARRET e LA NOIRE DE… são apresentados em cópias digitais restauradas.
Sala M. Félix Ribeiro | Qua. [26] 15:30
A CINEMATECA COM O INDIELISBOA: 50 ANOS FORUM BERLINALE – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural | Com o apoio do Goethe Institut
ELDRIDGE CLEAVER, BLACK PANTHER
de William Klein
com Eldridge Cleaver, Kathleen Cleaver
Canadá, 1970 – 75 min / legendado eletronicamente em português | M/12
Ativo desde os anos 50 e conhecido sobretudo como fotógrafo, o americano de Paris William Klein também realizou diversos filmes, documentários (GRANDS SOIRS, PETITS MATINS; MOHAMED ALI, THE GREATEST) e ficções (QUI ÊTES-VOUS, POLLY MAGOO?). Quando ELDRIDGE CLEAVER, BLACK PANTHER foi realizado, o movimento das Panteras Negras, ala mais radical do movimento negro americano nos anos 60 e adversária de Martin Luther King e da sua política “integracionista”, estava no auge. Exilado em Havana, Argel (onde o filme foi rodado, por ocasião do Festival Pan-Africano) e depois em Paris, Eldridge Cleaver era, em 1970, a encarnação do revolucionário e tinha, em Argel, a possibilidade de discutir com revolucionários de outros continentes. É esta dimensão que o filme tenta explorar, enquanto Cleaver aborda a situação política americana e expõe muitas das contradições da sua personalidade, que o levariam a regressar aos Estados Unidos em 1975, após sete anos de exílio, tornar-se estilista e aproximar-se de grupos religiosos e do Partido Republicano. Primeira apresentação na Cinemateca.
Sala M. Félix Ribeiro | Qui. [27] 19:00
A CINEMATECA COM O INDIELISBOA: DIRECTOR’S CUT – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural
ABSOLUTE STREET
de Jan Ijäs
Finlândia, 2019, 3 min
ECLIPSE – UNE ESTHETIQUE DE LA CENSURE
de Noé Grenier, Gilles Ribero, Gwendal Sartre
França, 2018 – 16 min
ANNA/NANA/NANA/ANNA
de Mark Rappaport
Estados Unidos, França, 2020 – 26 min
CONRAD VEIDT – MY LIFE
de Mark Rappaport
Estados Unidos, França, 2019 – 61 min
duração total da sessão: 106 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Samuel Beckett procurava a “rua absoluta” para abrir o seu único filme para cinema, FILM, com Buster Keaton e correalizado por Alan Schneider. ABSOLUTE STREET, do finlandês Jan Ijäs, reúne várias planos, em jeito de vistas lumièrianas, com várias ruas em Nova Iorque. Ao mesmo tempo, ouvimos Beckett a discutir com a equipa de produção o seu conceito para essa rua “inaugural”. ECLIPSE – UNE ESTHETIQUE DE LA CENSURE recupera as palavras trocadas entre censores franceses dos anos 50, 60 e 70 para esboçar um olhar intensamente moral e estético sobre as imagens do cinema – é possível uma “estética da censura”? A mais recente investigação ficcional do cine-ensaísta Mark Rappaport tem como objeto de desejo a atriz a quem um dia prometeram vir a ser tão grande ou maior do que Garbo ou Dietrich: a russa Anna Sten. Em ANNA/NANA/NANNA/ANNA, Rappaport começa na era em que os atores e atrizes ainda tinham rostos – o mudo – para, depois, percorrer a carreira acidentada dessa atriz em Hollywood. CONRAD VEIDT – MY LIFE é mais uma cine-biografia de Rappaport sobre a vida on screen de uma estrela de Hollywood, do Conrad Veidt, “o sonâmbulo”, de CALIGARI ao Veidt da fase anglófona, um rosto crescentemente preso aos papéis de nazi (CASABLANCA), passando por uma interpretação maldita, que inspirou Goebbels, em JEW SÜSS. Primeiras apresentações na Cinemateca.
Sala M. Félix Ribeiro | Sex. [28] 19:00
A Cinemateca com o Indielisboa: Director’s Cut – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural
FANTASMAS DO IMPÉRIO
de Ariel de Bigault
Portugal, França, 2020 – 120 min / legendado eletronicamente em português | M/12
com a presença de Ariel de Bigault
Cineasta particularmente sensível aos problemas da representação dos imigrantes e do passado colonial no cinema falado em português, a documentarista Ariel de Bigault vira-se agora para o tema do imperialismo lusitano e o discurso de propaganda que lhe está associado. Face às imagens do cinema português, e com a ajuda de realizadores como Fernando Matos Silva, João Botelho ou Margarida Cardoso, Ariel de Bigault delega no ator são-tomense Ângelo Torres o papel de guia numa narrativa que se propõe despertar velhos fantasmas no coração do imaginário coletivo português.
Esplanada | Sáb. [29] 21:30
A CINEMATECA COM O INDIELISBOA: OUSMANE SEMBÈNE – em colaboração com IndieLisboa – Associação Cultural
EMITAI
de Ousmane Sembène
com Robert Fontaine, Michel Renaudeau, Pierre Blanchard, Andoujo Diajou
Senegal, França, 1971 – 103 min – legendado eletronicamente em português | M/12
EMITAI, terceira longa-metragem de Ousmane Sembène, é o primeiro filme em que ele aborda de modo direto questões relativas ao passado colonial embora este tema espreite em quase todos os seus filmes. A ação tem lugar durante a Segunda Guerra Mundial, quando soldados das colónias eram enviados para lutar nas guerras travadas pelas suas “metrópoles”. “Esta guerra é dos brancos, não é nossa”, diz um dos protagonistas. No entanto, quase todos os homens válidos de uma aldeia senegalesa são levados para a frente de guerra e ainda são obrigados a entregarem a produção de arroz que garantia a subsistência da população. As mulheres recusam-se a entregar o arroz e esperam a intervenção de Emitai, o deus da guerra. Um desenlace violento é inevitável. Sembène resiste à tentação do lirismo revolucionário e dá à sua mise en scène uma sóbria eficácia, mostrando a distância intransponível entre colonizador e colonizado.